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Estudos propõem caminhos para descarbonização da Petrobras

Pesquisadores alertam para riscos da dependência do petróleo na economia brasileira

Dois estudos divulgados nesta terça-feira (16) indicam que a Petrobras tem condições de alterar sua trajetória, hoje fortemente dependente de combustíveis fósseis, e assumir papel central na transição energética brasileira. As análises foram elaboradas por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo Observatório do Clima, que defendem que a maior empresa do país diversifique seu portfólio e alinhe seus investimentos às metas globais de redução de emissões.

O alerta surge em um momento em que o petróleo já representa 13% das exportações brasileiras, superando a soja como principal item da pauta externa. Para os especialistas, essa concentração aumenta a vulnerabilidade da economia nacional diante da chamada “bolha de carbono”, fenômeno que pode provocar a desvalorização abrupta de ativos fósseis caso a demanda mundial por petróleo e gás caia a partir da próxima década.

O documento “Questões-Chave e Alternativas para a Descarbonização do Portfólio de Investimentos da Petrobras”, elaborado pelos economistas Carlos Eduardo Young e Helder Queiroz, da UFRJ, serviu de base para um segundo estudo, “A Petrobras de que Precisamos”, assinado por 30 organizações do Grupo de Trabalho em Energia do Observatório do Clima. Ambos destacam que, do total de US$ 111 bilhões previstos no plano de negócios 2025-2029 da estatal, apenas US$ 9,1 bilhões seriam direcionados a projetos de baixo carbono. A Petrobras, por sua vez, afirma que esse valor é maior, chegando a US$ 16,3 bilhões, o que representa um aumento de 42% em relação ao plano anterior.

Young alerta que a dependência da receita do petróleo não pode ser vista como solução para desequilíbrios fiscais. “A Petrobras, e o setor de petróleo e gás natural como um todo, não podem ser considerados como meros instrumentos de solução para o problema macroeconômico que abarca a questão fiscal no país”, afirmou. Queiroz reforça a preocupação com a dependência das administrações públicas em relação a royalties e participações governamentais. “Apesar dos recursos financeiros arrecadados, é importante recordar o risco associado à atividade petrolífera, caracterizada pela extração de recursos esgotáveis e cujos preços são extremamente voláteis”, destacou.

O relatório do Observatório do Clima sugere que a Petrobras avance em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, fortaleça a atuação junto ao consumidor final e priorize fontes de energia de baixo carbono, como hidrogênio verde, biocombustíveis de segunda e terceira geração e combustível sustentável de aviação. Também defende que a estatal congele a expansão da exploração em novas fronteiras, como a Foz do Amazonas, concentrando esforços em áreas já em operação, como o pré-sal. Para Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório, a estatal precisa ampliar sua ambição climática. “A Petrobras é uma empresa muito importante para o país, mas necessita internalizar a crise climática com muito mais vigor do que fez até agora. Seu plano de negócios pode e deve ser ousado na perspectiva da diversificação de atividades, com destaque para investimentos em energias de baixo carbono e na transição energética”, disse.

Na avaliação de Young, o Brasil continuará demandando petróleo por algum tempo, mas a estratégia não deve ser a expansão das exportações. “A Petrobras que eu quero é uma Petrobras pública, que atinja os objetivos do desenvolvimento nacional, que mantenha, sim, uma atividade importante, mas sem uma expansão que tenha o objetivo de exportar e gerar caixa”, afirmou. Para ele, é essencial que a companhia eleve os aportes na transição energética, em mitigação e em iniciativas que combatam o desmatamento e favoreçam a adaptação climática.

Em resposta, a Petrobras destacou que tem ampliado os investimentos na agenda de descarbonização. No plano 2025-2029, estão previstos US$ 16,3 bilhões para projetos de baixo carbono, além de US$ 1 bilhão em pesquisa, desenvolvimento e inovação na área, que deverá representar 30% do orçamento de P&D até 2029. A companhia informou ainda que destinou US$ 5,7 bilhões para projetos de energias renováveis como eólica, solar e hidrogênio, US$ 4,3 bilhões em bioprodutos, US$ 2,2 bilhões em etanol, US$ 1,5 bilhão em biorrefino e US$ 600 milhões em biodiesel e biometano. A estatal também anunciou um fundo específico de descarbonização, no valor de US$ 1,3 bilhão nos próximos cinco anos, dentro de um orçamento de US$ 5,3 bilhões voltados à redução das emissões. Segundo a nota, esse fundo faz parte da estratégia do programa carbono neutro, que busca identificar e implementar as alternativas de maior custo-efetividade para mitigação de gases de efeito estufa.